sábado, outubro 29, 2005

Hora de mudança

Não se esqueçam de atrasar os relógios uma hora na madrugada de amanhã.

Na madrugada do próximo domingo, dia 30 de Outubro, termina o horário de Verão. Os relógios deverão ser atrasados uma hora (às 02:00 será 01:00), em cumprimento da directiva comunitária (2000/84/EC) que rege a denominada Mudança de Hora e que afecta todos os Estados-membros da UE.

"Amanhã ajustamos o relógio, terminando a «hora de Verão» e repondo a hora normal do fuso em que vivemos, que coincide com o Tempo Universal Coordenado (UTC), por vezes chamado Tempo Médio de Greenwich (GMT). Com isso, quase todos evitamos acordar ainda de noite e sair de casa antes do nascer do Sol. Anoitecerá mais cedo, mas isso acaba por custar ao país menos dinheiro, pois nessa altura já a grande maioria das empresas industriais terá terminado o seu horário de trabalho.

No início da Primavera far-se-á outro ajuste, nessa altura para entrar em vigor um desvio à hora normalizada e adicionar 60 minutos ao tempo de Greenwich. Com esse desvio, volta-se a poupar recursos, pois passa-se a acordar mais cedo e a aproveitar a luz da manhã, que aparece igualmente mais cedo. Passa-se também a aproveitar a luz de fim de dia, sem ser necessário recorrer à iluminação artificial para preparar o jantar ou para jogar à bola. Os acertos de hora representam uma poupança considerável, tanto no Verão como no Inverno.

Para o estabelecimento da hora legal não está em jogo apenas o nascimento e ocaso do Sol, mas também os períodos de lusco-fusco, os chamados crepúsculos matutino e vespertino. Esses crepúsculos, na realidade, representam períodos de fronteiras pouco definidas que dependem das condições meteorológicas e da topografia do local, mas os astrónomos convencionaram limites claros. Chamam crepúsculo astronómico ao período em que o Sol se encontra entre 18 e 12 graus abaixo do horizonte, crepúsculo náutico ao período em que se encontra entre 12 e 6 graus nessa situação e crepúsculo civil ao período em que se encontra 6 graus ou menos abaixo do horizonte. Grosso modo, os limites estabelecidos correspondem a três fases do crepúsculo: o raiar da aurora ou começo da noite cerrada para o crepúsculo astronómico, o começo ou fim do céu azulado para o crepúsculo náutico e o começo ou fim do período em que é dia claro, apesar de o Sol se encontrar abaixo do horizonte, para o crepúsculo civil.

Curiosamente, o primeiro a analisar os limites dos crepúsculos de forma rigorosa e quantitativa foi Pedro Nunes (1502-1578). O problema não é simples, pois o movimento (aparente) do Sol não é sempre o mesmo. Pedro Nunes veio a verificar que isso acarretava crepúsculos de duração diferente, que variam com a latitude do local e com o dia do ano. Se calcularmos a duração do crepúsculo civil em Lisboa, por exemplo, verificamos que ele oscila entre um mínimo de 26 minutos em Março e Setembro, perto dos equinócios, até um máximo de 32 minutos em Junho, por altura do solstício de Verão. Não é uma diferença apreciável, mas representa uns 12 minutos diários de lusco-fusco a mais ou a menos. Esse período em que a luminosidade ainda evita a iluminação artificial é melhor aproveitado pela flexibilidade da hora.

Um século passado sobre os trabalhos de Pedro Nunes, Christian Huygens inventou o relógio de pêndulo (1656). Um outro século depois, cerca de 1760, começaram a ser construídos os primeiros relógios de bolso de precisão. A vida começou a ser regulada pelo relógio mecânico e passou a dar-se outro valor ao tempo. Não faltaria muito para que alguém se lembrasse de ajustar a hora à mudança das estações. Esse alguém foi o político e inventor Benjamin Franklin (1706-1790).

Na altura já com 78 anos, o inventor do pára-raios e das lentes bifocais vivia em França, como embaixador do seu jovem país. A pedido de um amigo, Franklin começou a escrever crónicas para o «Journal de Paris». Eram peças divertidas, mas onde se vislumbrava sempre o seu espírito inovador. Num desses artigos, publicado em 26 de Abril de 1784 com o título «Um projecto económico», Franklin queixa-se de os parisienses se levantarem tarde, já pelo meio dia. Ironicamente, assegura aos leitores que o Sol se levanta muito mais cedo, diz tê-lo visto com os seus próprios olhos... Sugere que a hora mude e que no Verão a vida comece 60 minutos mais cedo. Faz algumas contas e diz que Paris poderá assim poupar anualmente 32 mil toneladas de cera de vela.

A ideia de Franklin demoraria mais de um século a ser posta em prática. Foi preciso um evento triste, a Grande Guerra, para os Estados sentirem a necessidade premente de poupar energia. Em 30 de Abril de 1916, a Alemanha e a Áustria mudaram a sua hora legal, introduzindo a «hora de Verão». Três semanas depois, em 21 de Maio, outros países europeus seguiram o exemplo, entre os quais Portugal. Em 1917 foi a vez da Austrália e Nova Zelândia, e em 1918 dos Estados Unidos. Hoje, mais de 70 países aderiram ao regime de mudança de hora. Os cálculos de Pedro Nunes e a ideia inovadora de Benjamim Franklin tiveram uma repercussão com que poucos na altura sonharam."

Fonte: Nuno Crato in Expresso

3 comentários:

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